terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A Abadia de Northanger - Jane Austen (Northanger Abbey)



Austen. Sempre fonte de prazer estético e boas descobertas.

Quando comprei a Abadia de Northanger, em inglês, não havia conseguido, na época, nenhuma edição traduzida para o português. O livrinho ficou na estante por algum tempo, mas no último dezembro, resolveu se rebelar e dar uma piscadinha marota, lá do meio dos outros.

Pensei... por que não? E, pronto, lá estava eu, avidamente engolindo suas letras. Depois tentei lembrar porque demorei tanto, porque o livro ficou esquecido entre os outros... Como este não era muito comentado, acabei privilegiando a leitura dos mais famosos, como os excelentes Orgulho e Preconceito e Mansfield Park.

Então, a surpresa e a alegria foram grandes quando cheguei ao final da leitura. Pesquisas e mais pesquisas para saber mais sobre ele: primeiro livro escrito por Austen, só foi publicado postumamente em 1818. Apesar de seu direito de publicação ter sido vendido pela autora em 1803, como não havia sido publicado até 1816, ela readquiriu seu manuscrito. Contudo, a obra acabou vindo a público apenas após seu falecimento em 1817.

Para mim esta é, levando em conta que as ironias e comentários se transformaram mais facilmente em riso, a mais bem humorada estória de todas as que li da autora até agora (Orgulho e Preconceito, Mansfield Park e Emma). Por ser o primeiro escrito por Jane, me surpreendeu muito pela visão que ela já tinha das pessoas, de suas relações, de como se movem no meio social.

Desde o começo acompanhamos com interesse Catherine Morland, denominada por Austen, várias vezes, como a heroína de sua estória. Com isso, a autora permitiu-se fazer contrapontos por vezes irônicos, por vezes bastante divertidos, com as personagens de romances góticos, como a de Os mistérios de Udolpho (The mysteries of Udolpho) de Ann Radcliffe (citado na Abadia).

Se tomarmos o início de Os mistérios de Udolpho, por exemplo (do qual li as primeiras 55 páginas), as características da personagem principal, Emily, são, mais ou menos, as seguintes: é filha única de uma família de posses, é bonita e bastante prendada: desenha, pinta, toca e canta maravilhosamente, enquanto Catherine é filha entre muitos irmãos (como a própria Jane Austen foi, inclusive), mora num local retirado, sua família tem posses modestas e foi criada como uma garota comum, sem grandes brilhantismos - características bem mais realistas e que, sem dúvida, nos cativam muito como leitores.

A "aventura" de Catherine começa quando, com 17 anos, ainda muito inexperiente, é convidada pelos Allen, amigos da família, para passar algum tempo com eles em Bath (local que a própria autora visitava em sua época). Lá se verá às voltas com bailes, locais diferentes e com pessoas dos mais diversos tipos que por ali circulam. Fiquei tão envolvida pela leitura, que torcia para que a doce e sonhadora Catherine conseguisse perceber e aprender a lidar com a malícia da realidade à sua volta.

Sorriso e riso tiveram de se manifestar, durante a leitura, em algumas dessas situações. Um exemplo? Quando Catherine, cheia de imaginações sobre a Abadia, lá chega e, em seu quarto, encontra, por ali, uma caixa grande e pesada, um tipo de baú talvez (chest em inglês), misterioso e também quando resolve reparar em uma escrivaninha colocada a um canto. O que aqueles objetos antigos poderiam estar escondendo? Pergaminhos, documentos ocultos, algum segredo, já que a Abadia era bastante antiga?

É lá, como convidada dos Tilney, que ela vai acabar percebendo o quanto imaginação e realidade são diversas. Busca encontrar fatos semelhantes aos que lia em seus romances góticos, seus romances de terror, mas que, na realidade, se apresentam bastante diferentes. Austen acaba satirizando, assim, também os leitores de romances de sua época que acabavam acreditando na ficção como se fosse realidade. Sobre isso, vale ouvir o debate registrado no site da Penguin Books na área denominada Austen-Mania, no espaço reservado para discussões sobre sua obra.

É gostoso acompanhar a mudança dos pensamentos da personagem, seu modo de ver o mundo, até o final da estória, ver como se desenrolarão as suas "aventuras".

Outra grande alegria desta leitura foi, nas pesquisas sobre a obra na web, descobrir vários blogs e sites que tratavam do assunto, mas, principalmente, acabar encontrando a Jasbra (Jane Austen Sociedade do Brasil). O grupo estava, justamente quando cheguei ao final da minha leitura, organizando e realizando discussões sobre a Abadia. Os debates por lá são ótimos e as pessoas são muito, muito especiais. Se você é fã de Jane Austen, como eu, vale conhecer.


Mais alguns dados da obra:
Autora: Jane Austen (1775-1817)
Título original: Northanger Abbey
Editora: Penguin Books - Coleção Penguin Popular Classics
Inglaterra, 1994, 236p.
Obra publicada originalmente em 1818.


Blogs e sites para consulta:
- Jane Austen Sociedade do Brasil - Jasbra
- Jane Austen Portugal
- Austen-mania (Penguin Books)
- Jane Austen (em inglês)
- The Jane Austen Centre (em inglês)
- Livros em inglês disponíveis no Girlebooks