sexta-feira, 26 de março de 2010

As penas do dragão - Arnica Esterl / Olga Dugina e Andrej Dugin


Mais uma edição de livro infanto-juvenil magistral - daquelas boas de ficar olhando sempre e de, a cada visão, descobrir coisas novas.

Trata-se de um conto da tradição oral alemã bastante interessante narrado por Arnica Esterl com ilustrações que tornam essa obra muito especial.

O personagem principal é um rapaz que se apaixona por uma moça, mas que deve realizar uma tarefa bastante difícil imposta pelo pai da amada - conseguir três penas de ouro do dragão. Aceito o desafio, o rapaz parte em sua busca, encontrando várias pessoas no caminho que também solicitam seu auxílio. Solidariedade, superação, astúcia e generosidade são conceitos que permeiam a narrativa.

As ilustrações dos russos Olga Dugina e Andrej Dugin não servem apenas para completar o texto, elas o enriquecem de uma maneira inesperada. Quanto mais você olha as imagens, mais se descobrem personagens e cenários intrigantes que parecem contar também uma estória paralela.

Numa atmosfera medieval, povoam as ilustrações seres míticos como unicórnios e estranhos personagens que me lembraram as obras de Bosch. E mais - o que seriam aquelas letras espalhadas aqui e ali? Uma fechadura em uma pedra? E os anões?

Algumas dessas intrigantes referências foram explicadas pelos autores em entrevista disponível no site da Cosac Naify, editora que só merece elogios. Muito bom livro!

Vale também visitar o site dos ilustradores: o Dugin Art.


Mais alguns dados da obra:

Título original: Die Drachenfedern
Autor: Arnica Esterl (1933 -)
Ilustrações: Andrej Dugin e Olga Dugina
Tradução: Tercio Redondo
Editora Cosac Naify, São Paulo, 2010, 30p., 28 ils.

Origem: conto popular alemão coletado por Ignaz e Josef Zingerle (1854)

terça-feira, 23 de março de 2010

Das preciosidades da grande rede (4) - Instituto Moreira Salles


Alegrias de terça-feira para amantes de literatura:

Achar poemas de Fernando Pessoa, Drummond, Vinícius de Moraes, lidos por Paulo Autran, em registros fonográficos de 1965 - 1966, disponíveis no site do excelente Instituto Moreira Salles - na área reservada para Literatura e Teatro.

Em especial, encantou-me a leitura de Cruz na porta da tabacaria do heterônimo Álvaro de Campos. Bonito, bonito...

Para acessar, no site do Instituto, na página do Paulo Autran, clicar no link Leituras e, lá, os textos de ouvir.

Ainda na área de Literatura e Teatro, mais alegrias: pode-se consultar dados de outros autores em páginas caprichadas contendo vida e obra do autor, fotos, leitura de trechos, entre outros. Destaques para as páginas da Lígia Fagundes Telles e da Clarice Lispector.

Vale muito também navegar pelas outras áreas do site do Instituto Moreira Salles - as sessões de fotografia, música, artes visuais são imperdíveis.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Aquarela (Estudos - 7)


Aquarela sobre papel fabriano grana grossa


Mais um exercício de aquarela com paisagens. Este foi feito seguindo orientações do livro do Carl Purcell - Painting with your artist's brain (capa abaixo). Faz parte do primeiro capítulo que se chama Desenvolvendo uma boa técnica (Developing a good technique). Nele, o autor dá dicas de como conseguir determinados efeitos com as manchas e usando pincéis chatos e redondos.

A pintura acima foi feita com base no exercício que consta das páginas 26 a 29, baseado em uma foto de referência que o autor tirou no Zion Canyon que fica em Utah - EUA.

Resolvi privilegiar mais as manchas e, por isso, não acrescentei muitos detalhes nas árvores e nas folhagens. Para as montanhas foi muito interessante usar os pincéis chatos, como recomendado pelo autor.



segunda-feira, 1 de março de 2010

O Silêncio da Chuva - Luiz Alfredo Garcia-Roza



Na melhor linha dos romances policiais, o Silêncio da Chuva traz a primeira aventura publicada do investigador carioca Espinosa.

Personagem tão cativante quanto outros detetives famosos da literatura de que gosto muito, como o Dupin de Poe e o Holmes de Conan Coyle, tem suas peculiaridades. Com relação aos dois citados, por exemplo, enquanto estes resolvem seus casos independentemente de vínculo com as instituições policiais, satirizando-as muitas vezes, Espinosa está dentro da polícia, dela faz parte, embora dela duvide muito.

Neste primeiro romance, Espinosa se vê às voltas com o seguinte caso: um homem é encontrado morto em seu carro num edifício-garagem no Rio e tudo indica, para a polícia, que houve homicídio – nenhuma arma é encontrada. Entretanto, para nós, leitores, o primeiro capítulo já havia apresentado o que ocorrera, tudo bem diferente do que a polícia considera - temos informações que o personagem principal não tem. Mas será que temos todas?

Podemos achar que o livro vai girar apenas sobre como o investigador desvendará o caso que nós, leitores, já acreditamos saber do que se trata. Mas não é bem assim que o texto se desenvolve. Voltas e reviravoltas, surpresas e, o que mais me interessou, um personagem que se questiona, que erra, tropeça, se surpreende e nos surpreende, que reflete sobre a vida. Não é por acaso que ele tem nome de filósofo.

“Entrou em casa pensando se teria uma história pessoal ou várias e, dependendo da resposta, se ele seria uma ou várias pessoas. Antes de acender a luz do abajur da sala, descartara a pergunta como estúpida, apesar de arrastar até o banheiro um rabo de dúvida. [...]


Enquanto pensava em tudo isso, acendia as luzes do apartamento, sem nenhuma razão aparente além da necessidade de esclarecer a si mesmo. Fez o caminho inverso, apagando cada uma delas, deixando aceso apenas o abajur da sala. Tomou um banho demorado, desembrulhou um sanduíche dito natural, que estava na geladeira, abriu uma cerveja, esticou-se no sofá da sala e começou a pensar na morte, não na idéia abstrata de morte, mas em quanto tempo ainda teria de vida. Isso aos quarenta e dois anos, numa noite de sábado, num apartamento de solteiro em Copacabana. Concluiu que já estava morto. Foi dormir.” (p. 118-119).


Conheci o investigador em uma entrevista do autor Garcia-Roza no programa Espaço Aberto Literatura, por ocasião do lançamento do novo livro com Espinosa – Céu de Origamis (o vídeo da Globo está disponível temporariamente – ver abaixo). Resolvi começar pelo primeiro romance pelo fato de o autor ter comentado, na entrevista, que tem uma preocupação em fazer com que o personagem vá se transformando, que vá envelhecendo a cada livro. Foi uma boa opção – agora vamos aos outros romances!






Mais alguns detalhes da obra:
Autor: Luiz Alfredo Garcia-Roza (RJ, 1936)
Companhia das Letras, São Paulo, 2005, 245p. (Cia. de Bolso)
Publicado originalmente em: 1996