segunda-feira, 17 de novembro de 2008

La Divina Increnca - Juó Bananére



Publicada originalmente em 1915, La Divina Increnca é uma coleção de poemas satíricos compostos em uma linguagem bastante peculiar e divertida – uma mistura do italiano, do português e do caipira falado nas ruas de São Paulo naquela época. Trata-se de um linguajar bastante peculiar e facilmente reconhecível, principalmente para quem tem contato com italianos ou descendentes diretos deles.

Contudo, apesar das influências que o italiano certamente deixou no nosso sotaque paulista, essas influências já não se mostram hoje tão evidentes quanto na época de Bananére, quando os imigrantes italianos chegavam em massa para trabalhar nas fazendas ou nas indústrias do estado.

Juó Bananére - pseudônimo adotado pelo autor Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, nascido em Pindamonhangaba em 1892.

Ri muito com os divertidos poemas desse candidato a “Gademia Baolista di Lettera”, especialmente ao reconhecer as referências a poemas consagrados do mundo literário. A esculhambação que o Bananére faz é ótima. Ninguém escapa: Bilac, Gonçalves Dias, Edgar Allan Poe, La Fontaine e até Camões são referenciados, parodiados.

Abaixo um exemplo comparativo - um trecho de "Meus oito anos" do Casimiro de Abreu, no qual a infância é idealizada, um poema tipicamente romântico e, em seguida, um trecho do poema "Os meus otto ano" de Bananére, em que a infância é retratada de modo bem diferente!

"Meus oito anos
Casimiro de Abreu

[...]

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - um lago sereno,
O céu - um manto azulado, [...]"

"Os meus otto anno
Juó Bananére

O chi sodades che io tegno
D'aquillo gustoso tempigno,
Ch'io stava o tempo intirigno
Bringando c'oas mulecada.
Che brutta insgugliambaçó,
Che troça, che bringadêra,
Imbaxo das bananera,
Na sombra dos bambuzá.

Che sbornia, che pagodêra,
Che pandiga, che arrelia,
A genti sempre afazia
Nu largo d'Abaxo o Piques,
Passava os dia e as notte
Brincando di scondi-scondi,
I atrepáno nus bondi,
Bulino cos conduttore. [...]"
O gostoso também é ler os poemas em voz alta tentando imitar o sotaque italiano. No Ver São Paulo n.1, é possível conhecer um pouco mais sobre esse autor, também cronista e jornalista, e ouvir alguns poemas dele declamados. Muito interessante ouvir a voz do próprio Bananére em Sóle Mio.

É possível também ler os poemas de La Divina Increnca, em sua versão on-line. Nesta versão, há links para um glossário que remete às figuras da época e que o autor satirizava.

A edição da Editora 34 que lemos apresenta o texto como foi publicado originalmente e conta ainda com textos de Otto Maria Carpeaux e Antônio de Alcântara Machado.

A capa e as ilustrações são de Voltolino (1884-1926). É possível conhecer alguns de seus trabalhos, incluindo algumas ilustrações para o Sítio do Picapau Amarelo de Monteiro Lobato, clicando aqui.



Outros dados da obra:
Autor: Juó Bananére (Alexandre Ribeiro Marcondes Machado - 1892-1933)
Título: La divina increnca
Ilustrador: Voltolino
São Paulo, Editora 34, 2001, 72 p.

A edição da Editora 34 é a reprodução integral da primeira edição de 1915. Houve outras edições posteriores a 1915 que foram alteradas pelo autor. Até a 9a. edição, em 1925, Bananére acrescentou mais poemas, uma peça e outras histórias à obra.

2 comentários:

Léo Mariano disse...

oi patricia

valeu pelas dicas .

curti muito o post

abs

Patrícia C. disse...

Olá, Léo!

Fico contente que você tenha gostado. Quanta coisa da nossa cultura que a gente demora para conhecer, né? Eu também curti ter "acumpagnado" o Bananére e poder falar dele um pouquinho - Um abração e obrigada pela visita!