domingo, 5 de outubro de 2008

Entardeceres




Cancão do dia que se vai
Federico García Lorca



Que trabalho me dá
deixar-te ir, ó dia!
Vais cheio de mim,
voltas sem me conhecer.
Que trabalho me dá
deixar sobre teu peito
possíveis realidades
de impossíveis minutos!

Na tarde, um Perseu
te lima as correntes,
e foges sobre os montes
ferindo-te os pés.
Não podem seduzir-te
minha carne nem meu pranto,
nem os rios nos quais
dormes tua sesta de ouro.

Do Oriente ao Ocidente
levo tua luz redonda.
Tua grande luz que sustém
minha alma, em tensão aguda.
Do Oriente ao Ocidente,
que trabalho me dá
levar-te com teus pássaros
e teus braços de vento!



In: LORCA, Federico García. Obra Poética Completa, p. 347-348
Tradução de Willian Agel de Melo. Brasília: Editora da Unb/São Paulo: IMESP, 2004.

2 comentários:

Antonio Cícero da Silva(Águia) disse...

Excelência de poema... Amo a arte poética...

Patrícia C. disse...

Olá, Antonio!
Obrigada pela visita - poesia sempre!